Copa do Mundo
Para o Brasil e para a Fifa, a hipótese de fiasco é impensável. E o pragmatismo e o poder da presidente e do cartola são a chave para fazer o Mundial deslanchar
Giancarlo Lepiani
Por trás das cobranças mal-educadas de Jérôme Valcke e da pressão para que o Brasil aprove a Lei Geral da Copa nos termos desejados pela Fifa está justamente a convicção de que a Copa não pode fracassar de jeito nenhum
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A Fifa é a entidade internacional com mais filiados em todo o mundo - 208 associações nacionais, contra 193 países na ONU. Seu orçamento bilionário tem um ciclo peculiar: a cada quatro anos, em apenas um mês, os cofres da Fifa na Suíça são abastecidos com uma avalanche de dólares. A Copa do Mundo é um dos eventos mais lucrativos do planeta, e compõe a maior fatia da receita da Fifa. A entidade comanda a modalidade esportiva mais popular da Terra, mas é na Copa que ela têm sua grande chance de lucrar (os grandes campeonatos nacionais e continentais, por exemplo, são administrados por ligas de clubes ou confederações). A possibilidade de uma Copa ruim, portanto, provoca arrepios nos cartolas da Fifa - e mais ainda em Blatter. O suíço foi o responsável, como escudeiro do ex-presidente João Havelange, em transformar um torneio de futebol num espetáculo global com patrocínios e contratos bilionários. A Copa de 2014 será a última de sua gestão (promete deixar o cargo em 2015). Se o Mundial no Brasil for um fiasco, o suíço terá encerrado um carreira de décadas na Fifa numa nota profundamente negativa. Também pode correr o risco de ver algum opositor ganhar força para sucedê-lo. Por trás das cobranças mal-educadas de Jérôme Valcke e da pressão para que o Brasil aprove a Lei Geral da Copa nos termos desejados pela Fifa (leia mais abaixo) está justamente a convicção de que a Copa não pode fracassar de jeito nenhum. Blatter chegou ao país na noite de quinta-feira sabendo que tem uma chance preciosa de se acertar com Dilma na reunião desta sexta.
Para a presidente, que nunca fez muita questão de esconder que desaprovava a permanência de Ricardo Teixeira no comando do futebol brasileiro, também parece ter chegado a hora de colocar a Copa nos trilhos. A realização do Mundial no país foi empreitada do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, mas pode ser uma das grandes marcas do primeiro mandato da presidente. Dilma teme que escândalos de corrupção nas obras dos estádios ou em contratos com fornecedores da Copa manchem a imagem do Brasil e de seu governo no exterior - motivo pelo qual patrocinou a saída de Teixeira. A Copa do Mundo termina no dia 13 de julho de 2014 - ou seja, três meses antes da eleição presidencial, numa fase decisiva da briga pela sucessão. Uma Copa desastrosa pode servir de munição pesada para a oposição no duelo contra uma presidente que vem construindo seu legado sob as marcas da eficácia, do rigor, da capacidade administrativa. Pouco depois do desembarque de Blatter em Brasília, o cartola jantou com o ministro Aldo Rebelo, numa preliminar da reunião com Dilma. A conversa desta sexta-feira, portanto, já deve começar com discussões práticas sobre os próximos passos - Aldo já preparou o terreno para um entendimento entre o governo e a Fifa. A lista de assuntos a resolver é extensa, mas apenas um acordo é indispensável nesta sexta. Para salvar a Copa do Mundo no Brasil, Dilma Rousseff e Joseph Blatter precisam sair do encontro apenas com a roupa suja lavada e uma aliança pragmática firmada para descascar o abacaxi de 2014.
http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/por-que-dilma-e-blatter-vao-salvar-a-copa-do-mundo-de-2014
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