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quinta-feira, 1 de março de 2012

A assinatura do papelucho e os estúpidos. Ou: Tese já tentou ajudar Marta e Mercadante. Agora chegou a vez de Haddad. Ou ainda: A isenção escondida com o rabo de fora

01/03/2012
às 6:07

Poucas coisas me dão tanta preguiça como esse cretinismo de discutir se José Serra, caso eleito, vai ou não ficar quatro anos na Prefeitura. Quem está na origem dessa tolice? Respondo: Gilberto Dimenstein, com a sua mania de querer ser síndico de São Paulo. Coisa mais cafona! Mais chata! Mais autoritária! Um síndico que tem lado! Foi ele que veio com o papelucho em 2004, como se aquela bobagem tivesse mais autoridade do que o próprio eleitorado.
O que se queria então? Eu respondo: ou eleger Marta Suplicy para a Prefeitura em 2004 — que é o que teria acontecido se Serra não tivesse sido candidato — ou eleger Aloizio Mercadante para o governo do Estado em 2006, que é o que teria acontecido se Serra não tivesse sido candidato de novo. Quando se recupera, em 2012, aquele mesmo papel, o que se quer é eleger Fernando Haddad. Entenderam? ESSA PAUTA TEM PARTIDO: PT!!!
Serra fez mal em ter assinado aquilo em 2004? Fez! Dimenstein preparou um teatro. Se o tucano tivesse se recusado, diriam: “Está vendo? Não quer ser prefeito!”  Porque Marta não foi eleita, livrou-se ela do não-cumprimento da “promessa”. Tivesse conquistado a Prefeitura, é certo que teria tentado o governo de São Paulo. Qual é a grande vigarice política e intelectual desse troço?
Respondo: a criminalização da política! Fica parecendo que um homem público está cometendo alguma falha grave ao se candidatar a um novo cargo. Ora, se o povo não quiser, ele não será eleito. É simples assim. Digam-me cá: quando um parlamentar (vereador, deputado estadual, deputado federal ou senador) pede licença para exercer um cargo no Executivo ou mesmo para se candidatar a cargo executivo, estaria ele “traindo” o eleitor? Tenham paciência! E olhem que, no caso de ser nomeado para um cargo, o povo não opina! A decisão é só dele e de quem o convidou.
Sim, Serra deixou a Prefeitura em 2006 e se tornou governador no ano seguinte. Foi mandato biônico por acaso? Foi nomeado por alguma junta interventora? Não! Venceu a disputa para o Palácio dos Bandeirantes no primeiro turno. Em 2010, venceu a~disputa presidencial na cidade e no Estado. Apesar dessa campanha ridícula, mixuruca. Já cansei de ler rematados idiotas a proclamar: “Ah, mas deixou Gilberto Kassab na Prefeitura!” E daí? Kassab foi confirmado nas urnas em 2008 com mais de 60% dos votos. Foi o povo que o escolheu, não Serra.
Engraçado, não? Os únicos que se importam com isso para valer são aqueles que não vão votar no tucano ou que com ele disputam a eleição, como Fernando Haddad e Gabriel Chalita. A edição do Estadão de hoje está até engraçada. Os pré-candidatos do PT e do PMDB ganham o seu espaço para… atacar Serra! Chalita — ex-tucano e ex-socialista, atualmente no partido de Sarney — faz o elogio da própria coerência (!) e tenta semear a cizânia no tucanato, dizendo-se “muito amigo” do governador Geraldo Alckmin. Mostrando que faz política com seriedade, diz esperar os votos do PSDB ainda no primeiro turno… Deve ser para jogá-lo no colo de Dilma, que, atualmente, é a mulher madura que ele tem como referência. Sempre há uma na sua história político-lítero-existencial…
Que chato que Serra se candidatou em 2004! Não fosse ele, Marta teria vencido!
Que chato que Serra se candidatou em 2006! Não fosse ele, Mercadante — aquele que acha que o Enem dá problema porque o Brasil é grande demais — teria vencido!
Que chato que Serra seja candidato agora. Os setores da imprensa de São Paulo rendidos a Fernando Haddad estão com medo que ele barre de novo as pretensões do PT.
Haddad ainda não sabe por que é candidato. Na dúvida, ataca Serra. Chalita ainda não sabe por que é candidato (parece que é porque ele nos ama…). Na dúvida, ataca Serra. E é sempre o samba de uma nota só: “Não concluiu o mandato”. Ora, os eleitores do autor de auto-ajuda o queriam deputado federal por quatro anos. Por que não fica, então, na Câmara? Serra deixou Prefeitura e Estado e sabia que, se derrotado, não voltaria ao cargo. Se malsucedido, Chalita retoma sua cadeira de deputado federal. Cobra dos outros aquilo que ele próprio não cumpre.
Um político tem o direito de disputar o que bem entender, desde que dentro das regras do jogo. Jornalistas é que deveriam assinar um papel: “Prometo não ser idiota e respeitar os fundamentos da ordem democrática”. Essa isenção analítica que sempre colabora com uma tese petista — quando não é parte da campanha eleitoral de um candidato petista — já encheu o saco. Essa história da assinatura de Serra era peça da campanha de Marta em 2004, da campanha de Mercadante em 2006 e é agora, em 2012, mote da campanha de Haddad.
Antes que me encham: eu vou votar em Serra, já disse aqui. Em quem vai votar Dimenstein e os que o seguem nessa tolice? Como o gato, essa é uma isenção escondida com o rabo de fora.
Ah, sim: aceito bons argumentos que me contestem. Há algum?
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ 

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