Política
Partido nasceu com promessa de atender anseios da nova classe média, a velha classe C. Na prática, mostra pouco além de um amontoado de insatisfeitos
Carolina Freitas e Gabriel Castro
O prefeito de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab (Douglas Aby Saber/Fotoarena/Folhapress)
“Não é pecado ser de direta, mas eles não aceitam ser enquadrados na categoria. Talvez porque assim fiquem à vontade para aderir ao governo”, Humberto Dantas, sociólogo e doutor em Ciências Políticas pela USP
Um recém-nascido, mas com as feições da velha política brasileira. Assim é o Partido Social Democrático (PSD), fundado em 2011 pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e por aliados dele oriundos do Democratas (DEM). A legenda nasce grande – com 150.000 filiados, sendo 2 governadores, 6 vices, 2 senadores, 48 deputados federais, 140 deputados estaduais, 600 prefeitos e 6.000 vereadores. Tem, no entanto, o desafio de superar as questões regionais, desapegar-se do culto ao personalismo e constituir um discurso político consistente.
Desde que o partido foi concebido não houve quem o definisse melhor. “Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro”, afirmou em março Kassab, hoje presidente nacional do PSD. A vice-presidente da legenda, Kátia Abreu, colaborou. “Seremos uma oposição eventual”, disse em abril em entrevista ao site de VEJA. De fato a ideologia não está entre as prioridades. “O partido não precisa ser ideológico. O povão quer um estado que funcione”, afirma agora Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo e presidente do Espaço Democrático, fundação de formação política do PSD.
E, para entender esse povão, o engenheiro, a ruralista e o empresário que lideram o partido recorrem a pesquisas de opinião. Elas apontam os anseios da nova classe média, a velha classe C: segurança pública, mobilidade com conforto e qualidade na educação e na saúde públicas. Para aprofundar o estudo, Afif, o empresário, viajará o Brasil de janeiro a junho para coletar a opinião de 30.000 brasileiros em 27 seminários. “Vamos traçar as diretrizes do partido com base no que pensa a nova sociedade brasileira”, diz Afif.
A falta de bandeiras causa estranheza em um partido já formalmente constituído - o registro foi concedido pela Justiça Eleitoral em 27 de setembro – e que aglutinou tantas lideranças pensantes. “O natural seria uma legenda nascer de correntes da sociedade em busca de uma nova via ou pelo menos em torno de algumas bandeiras. Não se vê nada disso no PSD”, diz o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (Fesp). “Não há outro motivo para a formação do PSD que não a insatisfação dos filiados com seus ex-partidos.”
Um governista de direita - Apesar de os líderes se esquivarem do rótulo, o PSD é essencialmente de direita. As doze diretrizes da legenda, lançadas em março, têm como base princípios liberais, como a defesa da liberdade, o direito de propriedade e a descentralização do governo. “Não é pecado ser de direta, mas eles não aceitam ser enquadrados na categoria", afirma o sociólogo e doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (USP) Humberto Dantas. "Talvez porque assim fiquem à vontade para aderir ao governo, em qualquer um dos níveis de poder.”
A presidente Dilma recebe líderes do PSD
Note-se que, junto com o PSB, o PSD quase supera a bancada do PMDB, com um total de 78 deputados. No princípio, Kassab pretendia dar prazo de validade ao PSD: a legenda funcionaria por dois anos e depois se fundiria com o PSB de Eduardo Campos, governador de Pernambuco. O risco de a manobra ser considerada ilegal pela Justiça Eleitoral e a adesão de um número expressivo de lideranças ao PSD fizeram a ideia ficar adormecida - mas não esquecida. “O PSD nasce com o intuito de enfraquecer um gigante e pode sim minar a prepotência do PMDB”, afirma Humberto Dantas.
Estrutura de partido nanico - Apesar da bancada numerosa, o PSD ainda briga por espaço físico e estrutura dentro da Câmara dos Deputados e por condições para disputar as eleições municipais de 2012 em pé de igualdade com partidos do seu tamanho. O presidente da Casa, Marco Maia, aprovou a criação de 66 cargos para funcionários do partido, mas a reação negativa da decisão, que custaria à Câmara 10 milhões de reais ao ano, o fez recuar.
Outra novela envolve a alocação da bancada. A presidência da Câmara ofereceu salas ao lado da liderança do PCdoB, no Anexo 2. O líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos, recusou a proposta e sugeriu um lugar de visibilidade, como a área da taquigrafia, ao lado do Plenário. Até o fim de 2011, nada de consenso.
Para as próximas eleições, o PSD tem uma questão crucial a resolver: o tempo de propaganda eleitoral de rádio e televisão e a fatia do fundo partidário a que terá direito. O partido protocolou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 16 de novembro uma petição solicitando que ambas as concessões fossem feitas com base no número de políticos com mandato da legenda.
Ato de fundação do PSD, em Brasília
Em 29 de novembro, a assessoria especial do TSE deu parecer favorável ao PSD. O parecer, no entanto, não vincula o voto dos juízes. O julgamento deve acontecer nos primeiros meses de 2012 e o caso está sob responsabilidade do ministro Marcelo Ribeiro.
A decisão definirá o poder de barganha que o PSD terá para negociar alianças e candidaturas pelo Brasil afora. “Se a petição for negada, o PSD terá a estrutura de um partido nanico, com poucos recursos e segundos de TV na propaganda eleitoral”, diz o cientista político Humberto Dantas.
Vale tudo - Desatado o nó burocrático, a coerência nas alianças não parece um problema para o PSD. O comando da legenda deu liberdade às lideranças locais para que conduzam como bem entenderem as alianças em cada cidade no próximo pleito. Em resumo, as coligações seguirão o critério da conveniência. “Tudo depende da realidade local”, afirma a vice-presidente nacional do partido, senadora Kátia Abreu. No estado de Kátia, o Tocantins, o PSD flerta até mesmo com o DEM, de onde saiu a maior parte dos quadros do novo partido.
No Acre, do senador Sérgio Petecão, o acerto para 2012 é com o PMDB. No segundo turno, o plano é compor com o PSDB, de olho em um apoio nas eleições para o governo do estado, em 2014. Petecão é desde já candidato ao comando do Executivo estadual. Por lá, a única aliança impossível é com o PT. “Aí seria o fim”, diz o senador. Mas há divergências sobre o assunto. “Dependendo da região, o PT pode sim ser um aliado”, diz um cacique do PSD, de São Paulo.
Na capital paulista, aliás, o partido protagoniza uma briga de foice pela aliança com o PSDB. A tendência é que o PSD abra mão de lançar candidato próprio para apoiar os tucanos, com a condição de que o DEM fique de fora da composição. “Cabe ao PSDB olhar bem o peso de cada aliado”, alerta o líder paulista. Do DEM de São Paulo saíram os maiores nomes do novo partido, o que deflagrou uma guerra entre democratas e integrantes do PSD.
Ainda assim, o espirito é de conciliação com o que é conveniente. O presidente do diretório estadual do PSD no Distrito Federal, o ex-governador Rogério Rosso, traz mais uma pérola definidora da grande novidade política de 2011: “O PSD não deixa nenhuma porta fechada.”
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