Interesses
Além do Brasília e do Sobradinho, clubes adquiridos por figuras próximas ao governador Agnelo Queiroz, outros times da capital estão nas mãos de petistas
Gabriel Castro
Projeto do Estádio Nacional de Brasília: arena cobiçada (Divulgação)
A edição de VEJA desta semana mostra uma face nova do aparelhamento petista, que não poupa sindicatos, entidades estudantis e organizações não-governamentais. A reportagem mostra como dois clubes de futebol de pouca expressão foram adquiridos por pessoas próximas ao governador Agnelo Queiroz, em circunstâncias que chamaram a atenção do Ministério Público. O Brasília agora pertence a Luis Carlos Alcoforado, advogado do governador. o Sobradinho passou a ser controlado pela família de Paulo Tadeu, o principal secretário do governo. Mas esses não foram os únicos episódios.O Botafogo-DF, cópia do original carioca, nasceu depois que o empresário Walter Teodoro, que tem fortes ligações com o PT e fez campanha para Agnelo, comprou um antigo clube do Distrito Federal. O administrador já chegou a levantar suspeitas do Ministério Público por irregularidades na gestão de uma faculdade do Distrito Federal. Com senso de oportunidade acurado, Teodoro agora avalia mudar o nome do clube, que passaria a se chamar Nacional – coincidentemente, o nome do Estádio Nacional de Brasília, o elefante branco de 70.000 lugares que está sendo construído para a Copa de 2014.
O gigante de custo quase bilionário deve ficar às moscas durante os jogos do Candangão. Mas o espaço, localizado no centro da capital, tem tudo para se transformar em uma rentável arena de shows. Já em 2012, o governo deve escolher a empresa responsável pela gestão do estádio. Dirigentes de clubes apostam que as concorrentes terão, obrigatoriamente, de se vincular a algum time de futebol para participar da disputa. Essa pode ser a explicação para o súbito interesse pelo combalido futebol local.
Além da administração do estádio, outra intenção pode justificar o súbito interesse do grupo petista pelo futebol local. O caminho já foi desbravado uma década atrás, pelo ex-senador Luiz Estevão, dono do Brasiliense: "É muito comum um clube de futebol pagar 10 000 de salário e obrigar o jogador a assinar um recibo de 30 000”, explica um promotor com experiência na área. A diferença, claro, não é destinada a obras de caridade.
Mas justiça seja feita: o pioneiro clube apropriado pelos petistas foi o Ceilândia: chegou a usar uma estrela vermelha como símbolo e é presidido há anos por Ari de Almeida, que integrou o diretório do PT no Distrito Federal. Hoje, Ari também é administrador regional de Ceilândia, por indicação de Agnelo Queiroz.
Foi Ari quem negociou, ainda em 2010 e com o apoio de Agnelo, um patrocínio da União Química para a equipe. Os interesses se completavam: Agnelo era diretor da Anvisa e tinha influência sobre decisões que interessavam à empresa farmacêutica. Em ano eleitoral, o petista ganhou apoio político na maior cidade-satélite do Distrito Federal. E o dirigente do Ceilândia viu a equipe, turbinada pelo patrocinador, conquistar o título distrital depois de seis triunfos seguidos do Brasiliense de Luiz Estevão.
Curiosamente, Luís Carlos Alcoforado era advogado da União Química, na época da parceria com o Ceilândia. Ele, entretanto, nega ter participado das negociações. A empresa, por sua vez, diz que não fechou acordo algum com o clube.
Se seguir a lógica de outras unidades da federação, a politização do futebol deve ter consequências negativas para o futebol do Distrito Federal. Mas, pelo menos para o Brasília, a troca de comando parece ter dado sorte: o clube, que havia sido rebaixado para a segunda divisão local no campeonato de 2011, conseguiu reverter a decisão em um controverso julgamento do Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal e deve jogar a elite do futebol candango em 2012.
Os adversários dizem que os métodos usados para convencer um dos conselheiros a mudar de voto e manter o time na primeira divisão não foram os mais corretos. Alcoforado nega. Fato é que, agora, a briga ameaça atrasar a disputa de 2012. Se o prejuízo ficar apenas nisso, será o menor dos males.
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