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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pesquisar o cérebro está na moda



O  avanço da tecnologia do genoma e de imagem tem levado inúmeros pesquisadores  a se aprofundar no estudo do cérebro.  Ainda bem. Com o aumento da expectativa de vida ter uma cabeça funcional é fundamental. Esse último mês foram publicados diferentes artigos em revistas de ponta sobre novos mecanismos responsáveis por doença de Alzheimer, Parkinson e outras que afetam o cérebro abrindo novas perspectivas terapêuticas. E nesse fim de semana o periódico Nature Genetics  traz mais uma pesquisa  sobre a identificação de um novo gene responsável por uma patologia neurodegenerativa, ainda pouco conhecida no Brasil.
Trata-se da doença de Fahr que é causada por calcificações em diferentes regiões do cérebro. O gene foi identificado por pesquisadores chineses com a colaboração de colegas brasileiros, espanhóis e da Suíça. Para falar sobre isso entrevistei o Dr. João Ricardo Oliveira, psiquiatra e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco que juntamente com Cheng Wang é co-autor desse trabalho. O Dr. Oliveira também é autor do primeiro livro específico sobre este tema, publicado recentemente nos EUA: Managing Idiopathic Basal Ganglia Calcification (“Fahr´s Disease”). Portanto ninguém melhor do que ele para falar sobre essa nova descoberta.
O senhor pode explicar melhor o que é a doença de Fahr e como ela se manifesta?
Ainda pouco conhecida no Brasil, a doença de Fahr é uma condição neurodegenerativa com a presença de calcificações em diferentes regiões do cérebro, principalmente nos gânglios da base. Essas estruturas – que são fundamentais para a coordenação motora – têm sido relacionadas mais recentemente a funções mentais ou comportamentais tais como o humor, pensamento e memória. Consequentemente, estas calcificações podem causar distúrbios motores, déficits de memória, alucinações, delírios ou mesmo dores de cabeça.
O diagnóstico adequado exige a realização de tomografia computadorizada que permite a fácil visualização das calcificações. Elas podem ser extensas e alcançar vários centímetros de comprimento e largura. Formam-se lentamente, desde a primeira década de vida, mas os sintomas geralmente só surgem entre os 30 e 50 anos.
Por apresentarem diversos sintomas comuns com outras doenças, estes pacientes são muitas vezes diagnosticados erroneamente como tendo esquizofrenia, Parkinson, Alzheimer ou enxaqueca.
Como essa doença se transmite nas famílias? 
A herança é autossômica dominante. Isto é, se uma pessoa tiver uma mutação no gene responsável por essas calcificações, a probabilidade de transmiti-la para seus descendentes é de 50%. Entretanto é impossível prever qual será a gravidade do quadro clínico em uma pessoa jovem que herdou a mutação.
Como foi a sua participação nessa pesquisa internacional?
Desde meu pós-doc na UCLA, entre 2001 e 2004, que junto com outros grupos de colaboradores buscamos genes para esta doença. O gene que acaba de ser identificado (SLC20A2) codifica para uma proteína transportadora de fosfato (PIT-2), que se combina com cálcio na formação das calcificações cerebrais. Participei na identificação da primeira família do continente americano, que é brasileira, e que tem uma mutação neste mesmo gene. Além disso, estudei o padrão de expressão deste gene no cérebro humano. Mostramos também que nenhuma das mutações descritas nestes pacientes da China, Brasil e Espanha estavam presentes em mais de 2000 controles, o que confirma também que trata-se de um gene raro.
A doença na população brasileira manifesta-se do mesmo modo que na população chinesa?
A variabilidade de sintomas aqui também é grande, tanto quanto a observada em outros pacientes já relatados em todo o mundo.
Qual é o mecanismo que causa o aparecimento de calcificações?
As alterações no metabolismo de fosfato inorgânico fazem com que o cálcio se combine com este elemento, formando cristais de fosfato de cálcio que vão progressivamente aumentando e se agregando, formando verdadeiras “pedras” de calcificações intracranianas.
A partir dos novos achados é possível vislumbrar novas abordagens terapêuticas?
Sim, principalmente com medicações que já existem para a modulação do fosfato inorgânico, mas que são usados para outras doenças, como a osteoporose. Pretendemos iniciar um ensaio clínico no Brasil ainda esse ano e estamos convocando pacientes e médicos de todo o Brasil para colaborar nesta iniciativa.
É importante salientar que trata-se de uma doença bem rara. De fato, como comenta o Dr. João Ricardo a alteração genética encontrada  em pacientes não estava presente em 2000 controles. Embora vislumbrar um tratamento para essas sintomas é animador, dores de cabeça, enxaqueca e perda de memória são comuns e, portanto,  se você tiver algum desses sintomas eles podem ter inúmeras causas.

Por Mayana Zatz
 http://veja.abril.com.br/blog/genetica/sem-categoria/pesquisar-o-cerebro-esta-na-moda/

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