A decisão do governo de não reajustar os combustíveis para evitar a alta da inflação está cobrando seu preço nas contas da Petrobrás. Cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa de consultoria em gestão do setor de energia, mostram que a empresa perdeu R$ 12 bilhões entre 2003 e 2011 por ter mantido o preço da gasolina abaixo do que deveria cobrar levando-se em conta a cotação do petróleo. Só no ano passado, a fatura foi de R$ 7,9 bilhões.
A consultoria projeta nova perda bilionária este ano caso os combustíveis não sejam reajustados e a empresa tenha de comprar no exterior gasolina e diesel a uma cotação mais alta do que vende no Brasil. Até 31 de dezembro, a Petrobrás perderá cerca de R$ 2,2 bilhões com a importação de gasolina e R$ 3,9 bilhões com a importação de diesel.
No cálculo das futuras perdas em 2012 não entram as estimativas sobre os preços do barril do petróleo nem sobre as variações da taxa de câmbio. São componentes cujas oscilações os especialistas, ainda neste primeiro bimestre, não se arriscam a fazer.
As perdas elevam a pressão sobre a Petrobrás, submetida a uma dupla - e conflitante - missão. Estatal com ações negociadas em bolsa de valores, é usada pelo governo para amortecer as variações do preço do combustível e, ao mesmo tempo, é pressionada a dar resultados financeiros e reforçar o caixa para tocar o mais ambicioso programa de investimentos do País.
Mais perdas. A tendência, segundo o economista Adriano Pires, diretor do CBIE, é que os R$ 6,1 bilhões (soma das perdas com gasolina e diesel) previstos como prejuízo em 2012 sejam acrescidos de alguns outros bilhões, caso não haja reajuste dos combustíveis ainda neste ano. 'O cenário não é bom porque o consumo de gasolina está descolado do crescimento da economia, o que é estranho', diz Pires.
Ele cita dois motivos para explicar a disparidade. Em primeiro lugar, o incentivo à venda de carros novos. A outra razão é a crise do etanol. Como o preço do etanol disparou, os consumidores substituíram o combustível pela gasolina. Mas, como a capacidade de refino da Petrobrás está no limite, a empresa teve de importar gasolina a preços altos para evitar o desabastecimento.
As importações de combustíveis cresceram 400% em 2011 em relação a 2010. Foram importados 45 mil barris diários, contra 9 mil no ano anterior. Só em janeiro deste ano, a cada dia, foram importados 80 mil barris.
O balanço dos resultados de 2011, que revelou um prejuízo de R$ 9,95 bilhões na área de Abastecimento (a que responde pela compra e venda de petróleo e derivados), teve o efeito de uma bomba. Nos 13 dias úteis deste mês, as ações ordinárias (ON) da Petrobrás acumularam queda de mais de 6%, enquanto o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo subiu quase 5%.
As perspectivas são de aumento da pressão sobre a estatal. 'O setor acha que o consumo deve continuar crescendo', diz Pires. Os preços no mercado internacional também estão em alta.
Para o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, o preço internacional do petróleo tem subido por causa do risco de um conflito envolvendo o Irã. 'Nos últimos dez dias, o preço do barril esteve em US$ 108. Hoje (quinta-feira) superou US$ 119. A volatilidade é muito grande', disse. Ele não comenta os preços cobrados pela Petrobrás no mercado brasileiro.
Inflação. A recente ata divulgada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a taxa básica de juros manteve a previsão de que os preços da gasolina e do gás de botijão não devem ter aumento em 2012. A equipe econômica deixa clara a intenção do governo de manter congelados os preços.
Em 2011, o consumo de combustíveis cresceu mais do que o dobro da evolução do PIB. A expectativa do diretor de Abastecimento é de manutenção desse quadro em 2012, o que obrigará o governo a importar ainda mais gasolina. Para ele, o consumo de derivados neste ano também superará o crescimento da economia em, pelo menos, 50%. A se confirmar, será o terceiro ano consecutivo em que a demanda ficará acima do PIB.
'O mercado vai continuar crescendo', afirmou Costa, dando como exemplo o crescimento 'extraordinário' de 36% na demanda da gasolina em janeiro ante janeiro de 2011.
Em razão do crescimento da demanda, que obriga a Petrobrás a importar, o analista William Alves, da XP Investimentos, diz que o aumento do preço dos combustíveis já deveria ter ocorrido em 2011, 'para equacionar a diferença em relação ao mercado internacional'.
'A Petrobrás não tem uma política de repasse da volatilidade do preço do barril. Isso penaliza a empresa. De setembro de 2010 a abril de 2011, os preços partiram de US$ 85 e chegaram a US$ 115. De setembro a setembro de 2011, o preço médio ficou em torno de US$ 95. Ela poderia ter repassado', analisa Alves.
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