Alexandre Garcia comenta o livro de português, abonado pelo MEC, que defende que não há o errado na língua portuguesa, mas o inadequado.
Na semana passada, foi distribuído para quase meio milhão de alunos um livro de português que defende um novo conceito sobre o uso da língua portuguesa. Não teria mais certo ou errado, e sim adequado ou inadequado, dependendo da situação. O Ministério da Educação esclareceu que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações.
Quando eu estava no primeiro ano do grupo escolar e falávamos errado, a professora nos corrigia, porque estava nos preparando para vencer na vida. É notório que o conhecimento liberta, forma eleitores e contribuintes conscientes, gente que cresce e faz o país crescer.
É notório que o conhecimento vem pela educação na escola, em casa e na vida. E é óbvio que a raiz de tudo está na capacidade de se comunicar, na linguagem escrita que transmite e difunde o conhecimento e o pensamento. Isso é o que diferencia o homem dos outros animais.
A educação liberta e torna a vida melhor, nos livra da ignorância, que é a condenação à vida difícil. Quem for nivelado por baixo terá a vida nivelada por baixo.
Pois, ironicamente, esse livro se chama “Por uma vida melhor”. Se fosse apenas uma questão linguística, tudo bem, mas faz parte do currículo de quase meio milhão de alunos. E é abonado pelo Ministério da Educação. Na moda do politicamente correto, defende-se o endosso a falar errado para evitar o preconceito linguístico.
Ainda hoje, todos viram o chefão do FMI algemado. Aqui no Brasil, ele não seria algemado porque não ofereceria risco. No Brasil, algemas constrangem os detidos. Aqui, os alunos analfabetos passam automaticamente de ano para não serem constrangidos. Aboliu-se o mérito e agora aprova a frase errada para não constranger.
A Coreia saiu arrasada da guerra através de duas ou três décadas de educação rígida. A China, que há poucos anos estava atrás do Brasil, sabe onde está indo a razão de 10% ao ano do PIB: com educação rígida, tradicional, competitiva e premiando o mérito. Aqui, estamos apontando para o sentido contrário.
Alexandre Garcia
Para Sérgio Nogueira, livro aprovado pelo MEC é uma 'inversão de valores'
O professor de português Sérgio Nogueira participou do Bom Dia Brasil para comentar o livro de português que apresenta um novo conceito da língua portuguesa. Para o professor, trata-se do fim da gramática, que já estaria acontecendo com a chamada linguística moderna.“Nessa nova linha de ensino, o certo e o errado são abandonados e as variantes linguísticas são valorizadas”, disse, acrescentando que gostaria de acreditar que a autora do livro teve boas intenções: “Eu não conheço a autora do livro. Gostaria de crer que ela queria incentivar os alunos a não serem preconceituosos - por sinal, a função de qualquer professor.”
O livro mostra frases que seriam consideradas adequadas pelo novo conceito, como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. As explicações: “Na variedade popular, basta que a palavra ‘os’ esteja no plural" e "a língua portuguesa admite esta construção".
A orientação aos alunos continua na página 15: "Mas eu posso falar 'os livro'?". A resposta dos autores: "claro que pode". Com uma ressalva: "dependendo da situação, a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".
“É um preconceito da mesma forma que se uma pessoa for fazer uma entrevista usando chinelo e regata será discriminada”, comparou Sérgio Nogueira. “O que me irrita mais nessa história é que se fala tanto em preconceito e discriminação, mas acho que a discriminação maior é acreditar que a criança é incapaz de aprender plural e concordar verbo com sujeito. O ‘Soletrando’ [quadro do ‘Caldeirão do Huck’] está provando isso. Crianças são capazes de aprender questões ortográficas mais complexas.”
Para o professor, o livro contém uma inversão de valores. Ele disse se tratar de um contrassenso o esclarecimento do Ministério da Educação de que a norma culta continuará sendo observada em provas.
“Todos pagamos pelas escolas públicas. Você pagaria para que seu filho vá à escola, que deveria ser transformadora, para falar uma língua que não será precisa, que ele pode aprender a falar sozinho?”, indagou. “Me perguntavam na época do ‘internetês’ se o estilo deveria ser usado nas escolas. É claro que não. Isso a criança aprende em casa.”
Na opinião do professor, a língua portuguesa estaria ameaçada. “É diferente de respeitar as variações regionais e sociais não respeitar os padrões nacionais, não conhecer uma língua geral. Temos que ter uma linguagem que atinja do norte ao sul.”
Sérgio Nogueira lembrou ainda casos recentes de polêmicas envolvendo a educação brasileira.
“O MEC que me desculpe, mas é o Enem desorganizado, o ProUni com falta de fiscalização... pior é a reportagem sobre a merenda escolar. Isso me irrita profundamente, mais até como educador e não como professor. É a maior vergonha, e a professora foi exonerada porque denunciou”, concluiu.
G1
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