São Paulo
Integrantes de acampamento na Avenida São João dizem que vão invadir área pública caso concessão ao ex-presidente seja oficializada
Bruno Huberman
O "terreno do Lula" na rua dos Protestantes, no centro de São Paulo, cobiçado pelos sem-teto (Reprodução Google Maps)
"Museu da Democracia? Só se for a democracia deles", Maria do Planalto, líder dos sem-teto
A mulher, que há quatro anos vive de invasão em invasão no Centro de São Paulo, diz que o grupo tomará a área caso os vereadores aprovem o projeto de concessão apresentado pelo prefeito. “Por que Kassab não faz moradia popular em vez de doar para quem já tem dinheiro e casa? Assim que oficializarem a doação do terreno para Lula, nós vamos ocupar”, afirma Maria.
Não é à toa que tantos querem o terreno. A área de 4.400 metros quadrados na Rua dos Protestantes é um dos endereços mais privilegiados da região. O local fica a poucos metros do requintado espaço de concertos Sala São Paulo e da histórica Estação da Luz, além de ser vizinho do comando central da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Atualmente, o local é usado para estacionamento. Escorados nas grades do terreno, usários de crack fumavam seus cahimbos tranquilamente na tarde desta sexta-feira.
Lula quer construir no local o Memorial da Democracia – um museu para contar a história do processo de redemocratização do Brasil. Não se sabe ainda de onde viria o dinheiro para a construção. “Museu da democracia? Só se for a democracia deles, porque para nós tem democracia nenhuma”, diz, entre gargalhadas, Maria do Planalto.
O acampamento dos sem-teto na Avenida São João formou-se depois que as famílias foram retiradas de um edifício invadido na famosa esquina das avenidas Ipiranga e São João, em uma ação de reintegração de posse na manhã de quinta. Hoje, cinco prédios do Centro estão ocupados e outros tantos já foram desocupados. “Só sairemos daqui quando Kassab nos apresentar uma proposta de habitação popular ou quando o terreno de Lula for oficializado, para invadir a terra do Lula. O que sair primeiro”, diz a líder dos sem-teto.
Pelo andar da carruagem, a segunda opção deve ser a escolhida pelo grupo. O presidente da Câmara, vereador José Police Neto (PSD), afirmou que a votação do projeto de concessão do terreno é uma das prioridades para 2012. Por ter a maioria dos vereadores da Casa, Kassab não deve enfrentar dificuldades para concretizar a concessão.
Cracolândia – O terreno da discórdia fica dentro do perímetro da operação urbana Nova Luz, que pretende revitalizar o bairro conhecido como Cracolândia. Nesta sexta, a investida da Polícia Militar para erradicar o crack na região completa um mês. Contudo, em uma rápida passagem pelo epicentro da Cracolândia, na Rua Helvetia, a reportagem do site de VEJA presenciou crianças traficando a droga a poucos metros de uma ronda policial, além de dependentes fumando crack, agachados, no meio da rua.
A concentração de usuários, que até o início da operação impressionava, diminuiu. Porém, para acabar com a Cracolândia e revitalizar o Centro de São Paulo ainda falta muito – falta, por exemplo, como conceder um teto para aqueles que não o têm.
Mais de 200 famílias de sem-teto montam acampamento na Avenida São João
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