Essa é uma afirmação ousada e certamente há muitas pessoas que poderiam reivindicar essa distinção. Partidários de Robert Duvall, Anthony Hopkins, Helen Mirren, Paul Newman, Sidney Poitier ou Vanessa Redgrave não precisam se desculpar. Ao mesmo tempo, eles e outros defensores plausíveis seriam duramente pressionados para coincidir com o impacto de Redford em Hollywood no último quarto de século.
Talvez a coisa mais impressionante sobre as realizações de Redford como ator, diretor, produtor e defensor do filme independente é que ele não precisa de nada disso. Geneticamente dotado de um corpo atlético e boa aparência no estilo clássico que só ficaram mais acentuados e interessantes com a idade, Redford poderia facilmente ter se acomodado, interpretando os papéis de protagonista estilo garoto dos anos dourados que fazia no início de sua carreira pelas próximas décadas. Ele poderia ter esbaldado com fama, fortuna e a companhia de belas mulheres sem fazer nada além de aparecer no trabalho.
Em vez disso, ela parecia encarar sua aparência como desafio, uma barreira entre ele mesmo e a credibilidade que ele estava determinado a escalar, contornar ou explodir em pedaços.
Seu primeiro objetivo foi se estabelecer como um ator de credibilidade.
Quando ele decidiu se tornar ator, após uma breve tentativa de uma carreira de pintor, ele não foi direto para Hollywood, o que teria sido uma escolha natural para um jovem nascido alguns quilômetros de distância em Santa Monica, Califórnia. Em vez disso, Redford foi para Nova York para estudar na Academia Americana de Artes Dramáticas.
Após a graduação, ele ficou em Nova York, mergulhando no mundo liberal da televisão ao vivo na época em que o drama desafiador ainda não havia sido expulso da televisão pelas séries comerciais. Aparecendo em séries lendárias como 'Playhouse 90’ (1960), Cidade Nua’ (1961), 'Rota 66’ (1961), 'Alfred Hitchcock Presents’ (1961) e 'Além da Imaginação’ (1962), Redford trabalhou com atores e diretores jovens e ambiciosos, desempenhando um trabalho consistente em produções rapidamente montadas, pouco ensaiadas com ousadia e conteúdo.
No momento em que ele fez sua estreia no cinema, no drama da guerra coreana 'Obsessão de Matar’ (1962), Redford achou que havia se consagrado como ator – mas ele raramente recebia oferta de papéis que considerada desafiadores nos primeiros anos. O drama do sul 'Caçada Humana’ (1966), estrelado por Marlon Brando e adaptado da peça de Horton Foote por Lillian Hellman, deu a ele um papel robusto como um fugitivo, mas o mais comum era os estúdios contratá-los para histórias mais leves, como 'Situação Crítica Porém Jeitosa’ (1965) e 'Descalços no Parque’ (1967), sendo este último uma adaptação da peça de Neil Simon em que Redford fez um grande sucesso na Broadway.
'Butch Cassidy’ (1969) foi o filme mais importante da carreira de Redford.
CREDIT: Photo by Diana Gary. Copyright 1989 Miramax Films.
(Continuação)
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E o mais importante é que seu sucesso de bilheteria colocou Redford na posição de escolher suas próprias chances e ele não perdeu tempo em fazê-lo.
Pela próxima década, ele equilibrou atrações leves, como 'O Grande Golpe’ (1972), 'Nosso Amor de Ontem’ (1973) e 'Três Dias do Condor’ (1975), com histórias mais ambiciosas, como 'Mais Forte que a Vingança’ (1972), 'O Grande Gatsby’ (1974) e 'Todos os Homens do Presidente’ (1976).
Em 1980, Redford estava pronto para dar o próximo passo, passando para trás das câmeras. Não era raro atores atuarem como diretores, mas os mais proeminentes da época, Woody Allen e Clint Eastwood, mais notoriamente, geralmente dirigiam filmes em que eles próprios estrelavam, trabalhando em gêneros com os quais estavam mais familiarizados.
Em vez disso, Redford permaneceu atrás da câmera – ele apareceria em apenas dois dos filmes que dirigiu, dizendo: “Como diretor não gostaria de ter a mim como ator, e como ator, não gostaria de ter a mim como diretor” – e dirigiu um tipo de filme em que ele nunca havia atuado.
O drama familiar 'Gente Como a Gente’ (1980), baseado no romance de Judith Guest, era uma história realista e tensa imprópria para atores com beleza sobrenatural. Seus astros, Judd Hirsch, Timothy Hutton, Mary Tyler Moore e Donald Sutherland, atuaram brilhantemente para Redford e o filme ganhou quatro estatuetas do Oscar, incluindo de Melhor Filme, e, para seu diretor de primeira viagem, o prêmio de Melhor Diretor.
Redford ganhou sua aposta, abrindo as portas da direção para todos, desde Kevin Costner e Jodie Foster a Ben Affleck e Forest Whitaker. Ele não perdeu tempo em colocar suas conquistas de volta na mesa. Em uma época de fartura de ofertas para que ele dirigisse novamente, não dirigiu outro filme por oito anos. Em uma época em que seu potencial para ganhos como protagonista estava no auge, ele apareceu em apenas três filmes entre 1980 e 1990.
Em vez disso, Redford decidiu se estabelecer como produtor, não só de seus próprios filmes, mas também de uma mistura de filmes independentes peculiares e documentários. E o mais importante de tudo é que ele investiu tempo, dinheiro e prestígio pessoal em seus projetos pessoais de estimação, o Instituto Sundance e o Festival de Sundance.
Inaugurado em 1981 e com sede no lar adotivo de Redford, Park City, em Utah, o instituto foi criado como uma incubadora para artistas e cineastas independentes interessados nesses filmes. Seus programas de desenvolvimento artístico para produtores, diretores, roteiristas e compositores tiveram um impacto incalculável sobre o cinema americano. Literalmente centenas de artistas passaram pelas portas do instituto para se tornar pilares do cinema independente e comercial.
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CREDIT: Photo copyright 1974 Paramount Pictures.
No início, a ideia de uma exposição de cinema independente a ser realizada em Utah em fevereiro levantou uma questão assustadora: quem participaria? A resposta acabou sendo todos. Estimulado pelo sucesso de alguns dos primeiros vencedores do festival – o primeiro filme dos irmãos Coen, 'Gosto de Sangue’, ganhou o grande prêmio do júri em 1985 – Hollywood apareceu atraindo primeiramente observadores de distribuidores independentes, depois executivos do estúdio e, finalmente, estrelas de cinema e fãs de todo o mundo.
Quando 'Sexo, Mentiras e Videotape’ (1989), de Steven Soderbergh, saiu do Sundance para se tornar uma substancial máquina de fazer dinheiro, foi dada a largada para a corrida. Em meados da década de 1990, Sundance foi um must para aparentemente todos do cinema americano, com mais projeções todos os anos, mais negociações de distribuição de sucessos de bilheteria e mais festas do que qualquer outro festival dos Estados Unidos.
Muitos lamentaram a perda do peculiar Sundance da década de 1980, alegando que a comercialização crescente do festival era contrária ao espírito dos filmes independentes. Redford se recusa a concordar, no entanto, dizendo que as festas, as negociações e o brilho da mídia ainda eram todos secundários para os filmes.
“As pessoas vêm pelos filmes”, disse ele em 2004. “Se os filmes deixarem de ser bons, as pessoas não virão mais”.
Além de sua defesa do filme independente, Redford tem sido defensor das causas liberais, particularmente do ambiente e da condição dos índios americanos. Porém, ao contrário de muitos atores sinceramente interessados nessas causas, ele fez sua própria organização para tornar-se um especialista nas questões sociais, econômicas e políticas envolvidas.
“Eu aprendi cedo que é melhor você saber do que fala”, disse em 2006. “É melhor você perceber que certas questões vão ser tão importantes que, não importa o motivo ou a lógica aplicada a elas, você vai se deparar com a oposição só porque seu ponto de vista é diferente e de maneira alguma seu raciocínio será aceito. Além disso, você será atacado porque será retratado como não sendo confiável: 'Você é um ator, do que você sabe?”' Redford nunca se desculpou por ser ator e, embora não tenha aparecido nas telas desde 'Leões e Cordeiros’ (2007), há boatos de que ele estaria envolvido em vários projetos em produção. É seu mérito, porém, nunca ter se contentado em ser apenas ator.
Em 2002, Redford recebeu um Oscar Honorário pelas conquistas de sua carreira. A estatueta o descreveu como “Ator, diretor, produtor, criador do Sundance, inspiração para cineastas independentes e inovadores de todos os lugares”.
Foi uma síntese justa para um homem que, além de sua própria filmografia impressionante, deixou suas impressões digitais em milhares de filmes americanos nos últimos 20 anos, de uma forma ou de outra.
“Eu não consigo pensar em outra coisa além do dom e da criação independente”, disse Redford. “Eu não consigo pensar na próxima melhor coisa a fazer do que ser capaz de adiar. Acho que expressão criativa é fundamental para o sucesso de qualquer sociedade... Uma sociedade sem arte morrerá”.
(Gayden Wren é editor de entretenimento do The New York Times Syndicate.) The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times._NYT_
Foi uma síntese justa para um homem que, além de sua própria filmografia impressionante, deixou suas impressões digitais em milhares de filmes americanos nos últimos 20 anos, de uma forma ou de outra.
“Eu não consigo pensar em outra coisa além do dom e da criação independente”, disse Redford. “Eu não consigo pensar na próxima melhor coisa a fazer do que ser capaz de adiar. Acho que expressão criativa é fundamental para o sucesso de qualquer sociedade... Uma sociedade sem arte morrerá”.
(Gayden Wren é editor de entretenimento do The New York Times Syndicate.) The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times._NYT_
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