Lisboa
José Saramago e Pilar del Rio na Feira do Livro de Lisboa de 2008
O grande amor nos tempos de glória de José Saramago foi a jornalista e tradutora espanhola Pilar del Río, que conheceu em 1986, quando ela se deslocou expressamente a Lisboa para o conhecer. O interesse de Pilar despertara numa visita a uma livraria em Sevilha. Deparou com ‘Memorial do Convento’ numa estante. O título cativou-a. Comprou e “devorou-o”.
"Bem haja, a essa grande mulher de nome Pilar! São mulheres com esta fibra e sensibilidade, que fazem jus ao ditado:- Por detrás de um grande homem Há "sempre" uma grande mulher! Obrigado Pilar! Obrigado Saramago!"
José Barros
19 Junho 2010
Nobel da Literatura morreu aos 87 anos
Após essa primeira abordagem, Pilar, que então trabalhava para a TVE na Andaluzia, leu tudo o que estava traduzido de Saramago. Ao terminar ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis', a jornalista, que afirmou ter sentido "uma comoção muito forte", decidiu deslocar-se a Lisboa.
Saramago reconhece o papel então desempenhado por essa obra junto de Pilar ao dizer em 2002, numa entrevista: "Pelo menos dessa vez toquei no tecto (...) e toquei algo mais (...). Refiro-me a Pilar, claro está..."
O primeiro contacto entre ambos, ocorrido no Hotel Mundial, onde ela se hospedou, aguardando a visita de um homem que imaginara de baixa estatura, deu origem ao intercâmbio de livros e ideias, domínios em que detecteram a existência de grandes afinidades, designadamente de natureza política.
Saramago também a visitou em Espanha. Em 1997 passaram a viver em conjunto e no ano seguinte casaram em Portugal, cerimónia que repetiram em Espanha em 2007, na terra natal de Pilar, Castril.
Esta relação atenuou a estrita reserva mantida até então pelo escritor no que respeita à sua intimidade. A sua filha, Violante, reconheceu em 1999 que Pilar del Río o tornou "mais acessível, mais aberto, mais capaz de derramar os sentimentos." No entanto, o papel que a jornalista espanhola exerceu na vida do escritor ultrapassou em muito esse domínio. O editor brasileiro Luiz Schwarcz sugeriu-o numa frase muito aplaudida que proferiu em 12 de Maio de 2003, perante o casal e numeroso público: "É quase certo que Saramago não seria o que é sem a ajuda de Pilar del Río."
O ano em que Saramago conheceu a jornalista espanhola foi aquele em que se extinguiu a sua precedente relação amorosa, mantida desde 1966 com a escritora Isabel da Nóbrega. Curiosamente, tinha sido precisamente em 1966 que Saramago retomara a carreira literária, depois de uma paragem de 19 anos. E fê-lo não em prosa, mas com poesia - ‘Os Poemas Possíveis'.
A solidez e durabilidade da ligação então encetada transparece nas dedicatórias "a Isabel" que figuram em obras publicadas nesse período, designadamente os êxitos editoriais ‘Levantado do Chão' e ‘Memorial do Convento'. Foi uma "intensa paixão", segundo disse em 1999 Zeferino Coelho, editor e amigo de Saramago.
Isabel da Nóbrega era, como disse o crítico de arte e historiador José Augusto França, "filha das chamadas boas famílias". Provinha, assim, de um meio social estranho à vivência e convicções de Saramago. No passar dos anos a relação degradou-se "com o convívio do dia-a-dia", reconheceu Zeferino Coelho. As reedições de obras ocorridas depois do termo da longa ligação amorosa deixaram de incluir as dedicatórias a Isabel.
Mais raras ou inexistentes são as menções feitas pelo próprio e por terceiros à ligação de Saramago com Ilda Reis. Casaram-se em 1944, tinha o futuro escritor 22 anos de idade. Ilda Reis era natural de Lisboa e trabalhava como dactilógrafa da CP, tendo mais tarde tornado-se conhecida como pintora. Divorciaram-se em 1970. A filha de ambos, Violante, único descendente de Saramago, nasceu em 1947 e licenciou-se em Biologia.
Correio da Manhã
Nenhum comentário:
Postar um comentário