Em 28/05/2010
às 6:21A resposta da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, ao governo brasileiro foi tão dura quanto se pode ser na diplomacia. A proposta do Brasil e da Turquia faz o “mundo mais inseguro, não menos”, disse Hillary. Não há nada pior a dizer sobre um país no ambiente internacional. E isso significa que não se negocia a partir daí. A decisão é de Barack Obama, não de Hillary, é óbvio.
Trata-se de um golpe nas ambições megalonanicas muito maior do que, na média, acusa a imprensa brasileira — que ou demora a reagir ou serve, vergonhosamente, ao lobby do muitas vezes desastrado Itamaraty. Por quê? Sei lá… Está um tanto viciada nos supostos sucessos de Lula. Convencionou-se por aqui, com raras exceções, que, se ele diz que algo vai acontecer, então é porque vai. E a situação pode assumir um aspecto verdadeiramente surrealista a depender do caso.
É impressionante que, contra os fatos, a pregação do Itamaraty e de Lula ainda encontre eco por aqui. O Irã deixou claro que não abre mão de enriquecer o urânio em seu próprio território. A tal troca era só uma firula. Tenta-se, com a gritaria, mudar uma evidência. Lula está acostumado. É assim que age no ambiente interno. Fala o que lhe dá na telha e não é contestado. Conta a história como lhe convém. No caso do Irã, meteu-se num vespeiro certamente maior do que imaginava. Erro de cálculo do Itamaraty.
Há um conjunto de fatores que concorre para isso. O leitor sabe que, nos Estados Unidos, sou republicano, assim como, em Dois Córregos, torço para o Mocoembu, não para o Botafogo local. Mas é fato que, se John McCain tivesse vencido a disputa, talvez o governo americano estivesse mais aberto a uma intermediação como a brasileira ou, sei lá, tivesse sido menos rápido em desmoralizar o acordo com a proposta de sanções. O passivo dos republicanos nessa área seria, sem dúvida, bem maior. Obama, ao contrário, está livre para não responder pelos “erros” (concorde-se ou não com essa avaliação) do antecessor. O Itamaraty certamente não pôs essa questão na balança.
O Brasil também apostava num Obama “fraco”. Escrevi aqui durante a campanha eleitoral americana que boa parte dos que torciam pela eleição do democrata apostava, no fundo, que ele seria um presidente “antiamericano”, o que era uma bobagem. Por mais que não tenha, e não tenho, especial simpatia pelo atual titular da Casa Branca, ele é quem é, e isso significa incorporar todos os que o antecederam. Parte do seu papel nem depende de sua vontade.
“Nova estratégia”?
Veio a público justamente ontem o documento com a Estratégia de Segurança Nacional do governo democrata — apresentado justamente por Hillary, que deu um pito no Brasil. Obama tem, sim, um viés, digamos, meio lulesco, especialmente no hábito de oferecer mais do mesmo como se fosse uma revolução. É o caso do documento — e já deixo claro em que ponto essa questão se conecta com o resto do meu texto.
Veio a público justamente ontem o documento com a Estratégia de Segurança Nacional do governo democrata — apresentado justamente por Hillary, que deu um pito no Brasil. Obama tem, sim, um viés, digamos, meio lulesco, especialmente no hábito de oferecer mais do mesmo como se fosse uma revolução. É o caso do documento — e já deixo claro em que ponto essa questão se conecta com o resto do meu texto.
No que um articulista do New York Times interpretou como um dos “tapas” em George W. Bush, Obama afirma que o peso do novo século não pode cair só nos ombros dos americanos e diz que os adversários da América gostariam de ver o país enfraquecido pelo exercício excessivo do poder. O documento afirma a importância da diplomacia etc e tal… Mas atenção!
“Porquanto o uso da força seja às vezes necessário, nós vamos sempre esgotar as outras opções antes da guerra e pesar cuidadosamente o peso e o risco da ação e da inação (…)”. Quando necessário, “vamos buscar um amplo apoio internacional, trabalhando com instituições como a Otan e o Conselho de Segurança da ONU”. Bush dizia que os EUA não precisavam de permissão para agir, Obama escreve que os “EUA se reservam o direito de agir unilateralmente, se necessário, para defender nossa nação e nossos interesses”, mas sempre respeitando regras.
Isso “enterra” a doutrina Bush, como se vai dizer no Brasil? Não! Essa é a doutrina de segurança dos Estados Unidos. O que Obama está dizendo é que ele pode fazer o mesmo, só que com o coração partido e batendo um papinho. Volto ao Brasil.
De volta ao Brasil
O Brasil enxergou no governo Obama uma janela de oportunidades — um pouco, assim, como se o galo tivesse saído para dar uma ciscada, e o terreiro tivesse sido confiado aos frangotes. E se meteu na aventura iraniana. De fato, Obama enfrenta um combate acirrado dos republicanos, que ainda duvidam — e levam essa dúvida a milhões de americanos — que ele possa ser o homem certo para defender os EUA de seus inimigos. Por lá, o confronto é aberto, e ninguém considera sabotagem um partido de oposição fazer… oposição!!!
O Brasil enxergou no governo Obama uma janela de oportunidades — um pouco, assim, como se o galo tivesse saído para dar uma ciscada, e o terreiro tivesse sido confiado aos frangotes. E se meteu na aventura iraniana. De fato, Obama enfrenta um combate acirrado dos republicanos, que ainda duvidam — e levam essa dúvida a milhões de americanos — que ele possa ser o homem certo para defender os EUA de seus inimigos. Por lá, o confronto é aberto, e ninguém considera sabotagem um partido de oposição fazer… oposição!!!
Isso torna o atual presidente dos EUA um pouco menos Obama do que o Obama que foi eleito? Sim! Mas sempre foi uma tolice supor que uma abordagem como a brasileira, de protagonismo irresponsável, tivesse chance de prosperar. E, agora de acordo com o documento, os EUA podem ser acusados de qualquer coisa no caso do Irã, menos de “unilateralistas”. Na sua ação, conta com o apoio dos cinco membros permanentes e da maioria esmagadora do Conselho de Segurança e com o quase consenso da Europa. Isolado, nessa questão, está o Brasil.
Perdeu, Cara! A bravata foi desmoralizada. Pede pra sair!
Veja
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