Rio de Janeiro
Para promotora, apesar do fim da subvenção, contratos para apresentação em eventos do município escondem transferência de dinheiro para agremiações
Desfile da escola de samba Beija-Flor, Rio de Janeiro (Felipe Dana/AP)
Às vésperas do carnaval de 2012, o Ministério Público do Estado do Rio tenta colocar em pratos limpos algo quase tão antigo quanto a folia: a subvenção, aquele dinheiro que, ano após ano, o poder público entrega às escolas de samba para ajudar na realização dos desfiles. De tão institucionalizada, a ajuda financeira, apesar da dureza do termo, entrou até em letra de samba – “Gastei a subvenção do amor que você me entregou / Passei pro segundo grupo e com razão” (Enredo do Meu Samba, de Jorge Aragão) -, mas há dois anos, ela não existe oficialmente.Pressionados por um inquérito do próprio MP, aberto em 2006, a prefeitura e a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) acabaram com os contratos de repasse anual de recursos. Começou, então, a vigorar uma outra parceria: as escolas foram contratadas para apresentações em eventos do município, entre eles o Réveillon e o Viradão do Momo.
A promotora Gláucia Santana, que conduziu o inquétiro, considera que, por trás desses contratos, persiste a velha subvenção. Gláucia considera que o carnaval é autossustentável, e não precisa de dinheiro público. Além disso, a municipalidade já ajuda oferecendo todos os serviços necessários à realização dos desfiles.
A preocupação do MP é legítima, e não há mesmo como entender que uma atração mundialmente conhecida, que move a indústria do turismo no Rio, precise de verbas da prefeitura para existir. Mas enquadrar o carnaval não é tão simples. Como garantir, como tenta Gláucia Santana, que o dinheiro usado nas apresentações não tenha como destino final os desfiles da Sapucaí?
A promotora estimou que cada escola precise de 3 a 4 milhões de reais para realizar um desfile. Mas já em 2007 a Beija-Flor, que faz sempre os carnavais mais caros, estimava em 7 milhões o gasto com o desfile - hoje já se fala em até 13 milhões. Como notas fiscais e concorrências organizadas nesse mercado não são uma praxe, fica difícil mensurar quem exagerou para mais ou para menos. Entram ainda, nessa conta, valores como os ganhos de carnavalescos e figuras centrais dos desfiles, como casais de mestre-sala e porta-bandeira, entre outros.
Em 2011, pelo Viradão do Momo, cada escola recebeu 1 milhão de reais. E, no pacote de receitas das escolas, hoje em dia entram apresentações fora do país, eventos nas quadras e, aos poucos, a profissionalização do uso das marcas. A boa notícia, por enquanto, é que todas as agremiações reduziram consideravelmente a dependência do dinheiro do jogo do bicho – mas não totalmente. Este sim, um flanco ainda a ser atacado pelo MP e pela polícia.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ministerio-publico-investiga-repasse-de-verbas-da-prefeitura-do-rio-para-escolas-de-samba
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