Relator do Código Florestal na Câmara foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para ocupar vaga deixada por Orlando Silva; ministro do Esporte caiu após revelação, feita por VEJA, de seu envolvimento em esquema de corrupção
Luciana Marques e Adriana Caitano
Relator do projeto do Código Florestal, deputado Aldo Rebelo, é novo ministro do Esporte (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi confirmado como substituto do ministro do Esporte, Orlando Silva, afastado do cargo após envolvimento em esquema de corrupção revelado por VEJA. O anúncio oficial foi feito após reunião da presidente Dilma Rousseff com o próprio Aldo e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no Palácio da Alvorada. A nomeação será publicada na edição desta sexta do Diário Oficial da União (DOU). A posse será na segunda-feira.Em rápida entrevista coletiva, Aldo Rebelo disse que agradeceu à presidente a confiança depositada nele e que tentará cumprir os desafios da pasta, diante da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. "Disse que aceitava o desafio e que procuraria me desincumbir da tarefa da melhor maneira possível”, afirmou. Rebelo não quis comentar as acusações de corrupção que envolvem servidores da pasta, como o ex-ministro Orlando Silva, e disse que tomaria conhecimento da estrutura do ministério, para depois conceder uma nova coletiva à tarde.
O presidente do PCdoB disse que está satisfeito com a decisão da presidente Dilma, apesar de ter defendido com veemência o antecessor no cargo. “Acho que Aldo Rebelo vai dar uma grande contribuição ao ministério”.
Negociação - Também participou do encontro o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Nos últimos dias, coube a Carvalho as negociações com o PC do B para definir a demissão de Orlando Silva, que deixou o cargo onze dias depois que VEJA revelou sua participação em um esquema de pagamento de propina na pasta. A exoneração do ministro foi publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União. Por enquanto, o ministério está a cargo do secretário-executivo da pasta, Waldemar Manoel Silva de Souza, que também é do PCdoB.
Perfil - O comunista nasceu em Alagoas, tem 55 anos e é jornalista. Além de ser do mesmo partido para o qual a verba da pasta era desviada, Rebelo teve um início de vida política parecido com o do ministro que deixou a vaga. Ambos foram líderes estudantis e presidiram a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União da Juventude Socialista (UJS), mais um sinal de que a troca não garante que as coisas vão mudar.
Aldo Rebelo foi vereador de São Paulo e está em seu quinto mandato como deputado federal. Apesar da discrição ao evitar discursos e entrevistas, é considerado um dos parlamentares mais influentes do Congresso, graças a seu poder de articulação. A habilidade em atuar nos bastidores rendeu-lhe rápida ascensão durante o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: passou de líder do PCdoB a líder do governo, foi eleito presidente da Câmara e depois tornou-se ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
Como parlamentar, ganhou maior destaque ao ser escolhido relator do projeto que altera o Código Florestal brasileiro. Já no mandato de Dilma, seu relatório provocou debates ideológicos entre ruralistas e ambientalistas e chegou a irritar o próprio governo, que defendia pontos não inseridos na proposta, aprovada na Câmara em maio. No entanto, por causa do trabalho na reformulação do Código, recebeu, nesta semana, homenagem durante o Congresso Nacional de Avicultura, com direito a elogios inflamados do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
Em setembro, passou perto de ser escolhido ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), mas perdeu a vaga para a deputada federal Ana Arraes (PSB-PE), que assume o cargo nesta quarta. Rebelo era favorito do governo, mas perdeu apoio quando Lula decidiu fazer campanha em favor da candidata do PSB. Apesar de não tomar posição pública, o Planalto defendia a escolha do comunista, para afastá-lo da Câmara e facilitar a votação do Código Florestal na casa quando o texto retornasse do Senado.
Solução - Orlando Silva deixou nesta quarta-feira o cargo de ministro do Esporte do governo Dilma Rousseff. Ele é o sexto ministro de Dilma Rousseff a deixar a equipe desde o início do mandato da presidente, em janeiro – e o quinto a cair por envolvimento em um esquema de corrupção. O anúncio oficial foi feito à noite pelo próprio Orlando Silva após reunião dele com a presidente Dilma e com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no Palácio do Planalto. "Fato nenhum houve que possa comprometer a minha honra e minha conduta ética", afirmou o agora ex-ministro.
O comunista voltou a dizer que não há provas contra ele e tachou as denúncias feitas pelo policial militar João Dias como um "ataque baixo" e uma "agressão vil", mas admitiu o acirramento da crise política por causa das denúncias. "Decidimos que a melhor solução seria sair do governo para defender a minha honra", disse. "Saio com o sentimento do dever cumprido".
"Nós defendemos desde o primeiro momento nosso ministro porque ele é honesto, sincero e um jovem com grande capacidade", disse Renato Rabelo, durante a entrevista coletiva.
A decisão de tirar Orlando Silva do governo já estava tomada desde a manhã desta quarta. Conforme noticiou a coluna Radar on-line, Orlando Silva era considerado desde cedo pelos colegas de partido e pelo governo um "cabra marcado para morrer". Às 18 horas o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, confirmou que a demissão era inevitável.
VEJA
Nenhum comentário:
Postar um comentário