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domingo, 30 de outubro de 2011

lDe braços dados com os meus leitores - Só os que acreditam em bandidos a soldo se surpreenderam com o que escrevi sobre Lula. Este blog tem história, arquivo e memória!(Reinaldo Azevedo)

Os leitores que conhecem este blog e que me lêem habitualmente não se surpreenderam com o que escrevi sobre a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aqueles que caem no conto de vigaristas e que acreditam nas coisas que me são atribuídas —  não naquelas que eu efetivamente escrevo — se disseram surpresos. Estava na igreja quando recebi a notícia, via SMS. Dei instrução para que se publicasse a informação e se tomasse extremo cuidado com os comentários.

Tinha um compromisso familiar — o batismo do queridíssimo Thiago, de quem nos tornamos padrinhos —, e só voltei à minha casa no fim da tarde. Escrevi, então, o post acima e li os comentários do outro, excluindo muitos que me pareceram acima do tom. Fernando Oliveira, que nos ajuda (a mim e à Dona Reinalda) na mediação dos comentários, é competente e criterioso, mas se trata de uma operação sempre delicada, que envolve aspectos também subjetivos.
Antes que prossiga, uma observação importante. Ser “anti-Reinaldo Azevedo”, atacar-me, ainda que de modo estupidamente gratuito, rende grana. Os que o fazem, sem exceção, são patrocinados por dinheiro público — propaganda de governo ou de estatais. Virou uma profissão. Quem paga deve saber por quê. Quem recebe também. Não dou bola. Meu compromisso é com os meus leitores.
Ontem, em pleno sabadão, este blog recebeu 90.121 visitas. Agredir-me é uma forma de tentar existir na rede — sem contar que se trata, como é verificável, de uma profissão, de um meio de vida. É um troço moralmente miserável, mas, às vezes, o sujeito não tem outra opção na carreira; é o que resta a ex-jornalistas convertidos em esbirros do oficialismo. Sugiro, a propósito, aos admiradores dessa página que ignorem os valentes. Não entrem nessas páginas suspeitas para bater boca como comentaristas. Estão em busca de visibilidade.
Surpresa por quê?
Sou menos vaidoso do que muitos supõem ou acusam, mas tenho alguns orgulhos. Um deles é pensar com coerência e não mudar de acordo com o vento. No dia 25 de abril de 2009, quando a então ministra Dilma Rousseff fez o anúncio de sua doença, escrevi o texto “A atitude digna de Dilma”. Lá está com todas as letras:
“(…) doença não é categoria de pensamento. Doença não serve para distinguir pessoas, nem para o mal nem para o bem. No meu mundo, homens e mulheres são mesmo imperfeitos, têm problemas - inclusive os de saúde. Mas não se conformam com eles. Os males que temos, no corpo e na alma, têm de ser combatidos.
Espero, sinceramente, que a ministra vença a sua doença. E aproveito para dar a diretriz do blog neste caso. Será considerado um inimigo desta página aquele que ousar fazer o que faz a escória que combato: usar essa questão para atingir politicamente a pré-candidata do PT. A Dilma que combato é a que lidera a farsa política do PAC. A Dilma que luta, como todos nós, contra os seus males merece o meu aplauso.”
Faço, quando é pertinente fazer, a devida distinção entre “a pessoa” e “o político”. É claro que muita gente tenta embarcar nessa diferença para chamar “questão pessoal” o que é mera apropriação do dinheiro público. Eu escolhi a civilização.
No dia 26 de abril de 2009, num texto intitulado “A doença sem metáforas”, apontava o trabalho de “gente que vem lá do submundo do subjornalismo para tentar borrar a área de comentários, fazendo um esforço para caracterizar os leitores desta página como brucutus que não sabem a diferença entre dramas privados e questões públicas.” Acrescentei: “E agem assim precisamente porque eles não distinguem uma coisa de outra. É preciso que arrastem para a lama aqueles que consideram adversários para justificar seu próprio vício de se espojar no lodo.” Nesse texto, eu já apontava o risco de que os petistas fizessem uma exploração eleitoreira do evento a partir de uma fala da própria Dilma na entrevista coletiva: Aliás, nós, brasileiros, temos esse hábito de sermos capazes de enfrentar obstáculos, de transpô-los e de sair inteiros do lado de lá.”
Muito bem! No dia seguinte, 27 de abril de 2009, Fernando Haddad, ministro da Educação, caia de boca no câncer eleitoreiro. Para a minha estupefação, afirmou: “Imagino que [o câncer] possa até fortalecer [a ministra] pela sua própria trajetória, pelos desafios que ela já venceu. Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país”. Entenderam? Haddad via a doença como um ativo eleitoral e como uma metáfora. E não estava sozinho.
A reflexão mais grotesca, e não há surpresa nisto, foi feita por Marco Aurélio Garcia sobre a qual escrevi no dia 28 de abril de 2009, presenteando-o com um texto intitulado “A voz do tártaro: dirigente do PT reflete sobre os benefícios eleitorais do câncer”. Dizendo ter conversado com um filho médico, afirmou o bruto:
“Do ponto de vista médico, ela tira isso aí de letra. Do ponto de vista político, ele disse que isso vai reforçar a candidatura dela.
Eu, que já enfrentei situações parecidas, não tenho a mínima dúvida de que nossa ministra Dilma já se saiu bem desta, inclusive a coragem com que enfrentou, a franqueza. Ou seja, isso deve ter impactado muito bem na opinião pública do País”.
No dia seguinte, 29 de abril de 2009, escrevi então o artigo “Câncer no palanque: um ‘case’ de Comunicação. E notava:
“Faltavam a Dilma qualidades de, digamos assim, ‘mãe dos pobres’ - assim como Lula é o pai. Ela era tão-somente a mãe do PAC, algo muito impessoal, frio, que não vinha rendendo os necessários dividendos eleitorais. Ninguém inventou uma doença para Dilma - isso é uma bobagem. A invenção é outra. Trata-se de uma personagem: UMA MULHER DOENTE, CURADA PELA CORAGEM. Essa é a peça publicitária, sobre a qual os próprios petistas falam com destemor; mais do que isso: tratam do assunto com uma falta de vergonha que é muito característica.”
Vergonha na cara
Não! Eu jamais faria, ou permitira que se fizesse, baixa exploração política de um tema como esse. Como digo no texto lá do alto, sobre Lula, eu acho detestável que se possa politizar o câncer, que a doença seja tratada como metáfora, como punição moral, como conseqüência de nosso eventual mau comportamento. E, como está fartamente demonstrado aqui, não assumi essa postura agora. Há mais de dois anos, com Dilma, atuei da mesma maneira. E a razão é simples: eu sei o que eu penso, e penso o que penso. Não emprego instrumentos que considero ilícito que meu adversário empregue. Do mesmo modo, não acho que ele só tem legitimidade se operar com os meus critérios. E nada disso me impede ser bastante duro com aquilo que repudio.
É bom provar o que se diz, não? O que vai acima desmonta duas farsas: 1) a dos vigaristas do subjornalismo, que pretendem me atribuir uma prática e um pensamento que não são meus para me caracterizar como truculento porque, assim, disfarçam a própria truculência a serviço do oficialismo, e 2) a dos petralhas; eles, sim, conforme o demonstrado, levaram o câncer para o palanque e para a rinha política.
“Mas e então, Reinaldo, como é que ficamos?” Ficamos como estávamos. Nego-me a considerar essa gente o meu norte moral e a reproduzir as suas práticas. A Internet está aí. Devo ter sido o primeiro jornalista, talvez no mundo, a considerar inaceitáveis as práticas daqueles que derrubaram o homicida Muamar Kadafi. Não precisei que Obama se dissesse chocado para, então, poder ancorar em alguma referência politicamente correta a minha própria indignação.
Não são meus adversários que ditam meu norte moral. E eles só são meus adversários porque acreditam em coisas em que não acredito, porque fazem coisas que eu não faço, porque querem um mundo que eu não quero.
Por Reinaldo Azevedo

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