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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Como eu trato Lula e como o blogueiro oficial de Lula já me tratou. Eis por que somos tão diferentes

Critiquei um ator de quinta, um palhaço dos petralhas, que afirmou na CBN que os leitores do meu blog estavam se dirigindo a Lula de maneira imprópria, o que teria me levado a fechar a área de comentários — uma mentira óbvia. Todos sabem que adotei, em relação à doença do ex-presidente, a mesmíssima postura que adotei em 2009, quando Dilma ficou doente. Mas e “eles”? E a rede petralha?


Em julho de 2007, um ano e quatro meses depois de eu ter passado pelas minhas cirurgias, num desses embates sobre descriminação da maconha, recebi de um sujeito chamado “Jorge Cordeiro” uma mensagem extremamente agressiva, que não poupava das vilanias nem mesmo a minha família. Na parte publicável de sua mensagem, que dizia respeito só a mim, lia-se isto:
“Talvez, se vc fumasse maconha, não teria tido as tais bolotinhas na cabeça, né dodói?”
É isso mesmo que vocês entenderam. O cara estava dizendo que só tive tumores no crânio porque não fumei maconha.
Aí dirá alguém: “Mas que importância tem esse cara, Reinaldo? Por que falar dele”. Pois é. Ele foi nomeado pouco tempo depois o BLOGUEIRO OFICIAL DE LULA. Passou a ser o chefão do “Blog do Planalto”. A voz de Lula na Internet achava que as pessoas tinham ou deixavam de ter tumores em razão de seu bom ou de seu mau comportamento. No caso, Cordeiro estava sugerindo que o bom comportamento era fumar maconha. Como eu não havia fumado, estaria arcando com as conseqüências.
O post original está aqui. Quando ele foi nomeado, escrevi outro . Reproduzo a resposta que lhe dei em julho de 2007 (em azul). Volto em seguida.
Vamos ver, Cordeiro, se, ao imolá-lo, ao menos diminuo os pecados do mundo. Cordeiro não deve ter bolotinhas na cabeça, o que me faz supor que ele fume maconha. Problema dele, não meu. Como ele a consegue? Bem, aí é problema da polícia, já que o tráfico continua a ser um crime. É um pedacinho do que essa gente pensa. Em uma ou duas linhas, todo o horror das suas utopias se revela. Observem que ele lida com a máxima de que o doente é culpado por sua doença. Por que me nasceram tumores na cabeça? Ora, porque não “relaxei e gozei” - ao menos não à moda deles.
Exceção feita à contaminação por transfusão, a Aids, por exemplo, é uma doença associada a comportamentos de risco. Nem assim, é claro, faz sentido dizer que a culpa é do próprio doente. Não era a doença que ele buscava, mas o prazer. Daí decorre que a arma eficaz para combater a sua expansão é conjugar a divulgação de métodos preventivos (o que o Brasil faz) com o apelo às escolhas morais (o que o Brasil não faz). Há comportamentos de risco também no que respeita a formações tumorais, claro. Mas é certo que ninguém fuma, consome gordura em excesso ou deixa de se alimentar com fibras em busca de um tumor.
O remelento, vejam só, não está nem mesmo me dizendo que, se eu tivesse tido, até os tumores, uma vida mais asséptica, mais comedida, mais regrada, a doença não teria me atingido. Nada disso. Ele deve acreditar nas virtudes relaxantes da maconha e em seus mistérios gozosos, que teriam me faltado - daí os tumores. Pior do que isso: a minha não adesão a um comportamento que ele considera bacana fez com que eu pensasse essas coisas que penso. E as bolotas me vieram como uma punição. Cuidado: não ser petralha ou maconheiro provoca câncer.
Voltei
Essa foi uma das milhares de agressões que recebi e recebo ainda. São os mesmos que, diante de um acidente aéreo que mata quase duas centenas de pessoas, fazem a mímica do estupro, imaginando que atraem com violência o corpo de terceiros contra a própria pélvis, num prazer extraído sabe-se lá de que baixeza d’alma.
Nem assim, minhas caras, meus caros, vou liberar certos comentários. Não aceitarei que se pague na mesma moeda; não darei a eles o prazer perverso de supor que somos iguais. Pela simples, óbvia e boa razão de que não somos. O homem que Lula escolheu para cuidar do seu blog foi capaz de me escrever aquela enormidade. Essa é uma das razões por que não pertencemos à mesma categoria de humanos.
Eu continuarei a desejar sorte a Lula. Eu continuo a achar que isso nada tem a ver com punição ou sei lá o quê. Também não vejo ironia nenhuma do destino. Todos os dias, mundo afora, milhares de pessoas que nada fazem senão se ocupar da própria vida e da vida daqueles que amam são colhidas por infortúnios, sem que se possa inventar uma narrativa cheia de nexos causais ou simbolismos.
Os que sofrem merecem ser consolados, o que não quer dizer que precisemos concordar com seus atos. Não se trata de endurecer sem perder a ternura, como dizia aquele assassino, que isso, pra mim, é lema de remédio para a “paumolescência”, como dizia a turma do Casseta & Planeta. Trata-se apenas de escolher um padrão mínimo de civilidade e passar a operar a partir dele.
Se Lula quis levar  gente capaz de escrever aquele troço para dentro do Palácio, muito bem! No meu blog, exijo mais respeito do que o vigente no ambiente palaciano.
Texto publicado originalmente às 22h37 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo
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