Em 04/11/2011
às 18:48 As Esganadas (Companhia das Letras, 264 páginas, 36 reais), novo romance do humorista Jô Soares, chegou ao topo da lista de livros de ficção mais vendidos, cuja nova edição vai ao ar neste sábado. O livro, lançado no último dia 22 com uma tiragem de 80.000 exemplares, já teve outros 20.000 encomendados pela sua editora, a Companhia das Letras.
Neste retorno à trama policial e ao romance de época – mais especificamente à Era Vargas, pano de fundo de O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998) –, Jô fala de um homem obcecado pela figura materna, que ele matou e segue matando em todas as gordas que encontra. Sim, a mãe do serial killer era gorda, palavra que Jô prefere a qualquer outro sinônimo ou eufemismo.
O enredo de As Esganadas é simples e bem amarrado. A história gira em torno de Caronte, o dono da chique funerária Estige. O livro deixa claro desde o começo que ele é o assassino da trama. Assim como o pai, que acabou se matando, Caronte foi sufocado por uma mãe tirana, e passa a vida a se vingar dela. A relação é de amor e ódio, daí o personagem se sentir excitado ao matar jovens gordas com receitas portuguesas herdadas da “genitora lusitana” – o título de duplo sentido do livro se refere à fome voraz das vítimas e ao fato de elas morrerem sufocadas de tanto comer. Mas não há entre criminoso e vítima uma relação exclusivamente erótica – tanto que, antes de optar pela capa final, Jô Soares chegou a vetar uma versão que trazia a ilustração de uma avantajada e sensual pin-up, bastante diferente das quase melancólicas gordas do livro.
Se o leitor sabe logo no início quem é o assassino, resta-lhe o suspense sobre a sua captura. Assim, por quase todo o livro se acompanha um divertido grupo à caça do serial killer: um delegado mal-humorado, seu assistente medroso e débil, uma moderna jornalista da revista O Cruzeiro e um ex-policial português inteligente. Piada pronta, ora pois, o gajo foi até amigo e personagem de Fernando Pessoa – o Esteves sem metafísica de Tabacaria, também tomado emprestado pelo escritor Valter Hugo Mãe para o seu A Máquina de Fazer Espanhóis (Cosac Naify, 256 páginas, 39 reais). É principalmente a partir das aventuras desse grupo, na busca pelo criminoso ou em incursões pela vida civil do Rio de Janeiro de 1938, ano de nascimento de Jô, que se dão as piadas nem sempre hilárias do romance.
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