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domingo, 1 de janeiro de 2012

Pesquisa relaciona temperatura com mudança de sexo em algumas espécies

Biologia

Cientistas desvendaram o mecanismo pelo qual altas temperaturas fazem com que alguns peixes com DNA feminino virem machos durante o desenvolvimento

Dicentrarchus labrax Dicentrarchus labrax: alta temperatura nas primeiras semanas de vida pode alterar sexo do peixe (Thinkstock)
Em algumas espécies, a temperatura desempenha um papel fundamental na determinação do sexo de seus indivíduos. Em outras espécies, a determinação sexual está inscrita no DNA, mas a temperatura pode suplantar a instrução genética. Embora isso já fosse conhecido, pela primeira vez cientistas desvendaram o mecanismo que gera essa mudança. 

CONHEÇA A PESQUISA
Título original: DNA Methylation of the Gonadal Aromatase (cyp19a) Promoter Is Involved in Temperature-Dependent Sex Ratio Shifts in the European Sea Bass
Onde foi divulgada: periódico PLos Genetics
Quem fez: Francesc Piferrer e equipe
Instituição: Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona
Dados de amostragem: robalos expostos a diferentes temperaturas — normal e alta — nos primeiros 60 dias de vida
Resultado: Altas temperaturas inibem uma proteína essencial no desenvolvimento de ovários em algumas espécies de peixes.
Segundo um estudo conduzido pelo pesquisador espanhol Francesc Piferrer, do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona, e publicado no periódico científico PLos Genetics, as altas temperaturas inibem uma proteína chamada aromatase.
A aromatase é conhecida, entre outras funções, por transformar hormônios masculinos em femininos. Ela é essencial em espécies de animais vertebrados não- mamíferos, pois é responsável pelo desenvolvimento dos ovários. Sem aromatose, fica impossível formar os ovários.
Estudos anteriores com o Dicentrarchus labrax, espécie de robalo comum no Oceano Atlântico, já haviam demonstrado que, a partir de uma população dividida meio a meio entre fêmeas e machos, é possível chegar a uma população inteiramente masculina aumentando a temperatura da água nos estágios precoces de desenvolvimento. 
Os efeitos são maiores no período em que os aparelhos sexuais dos animais ainda não se diferenciaram e ainda não começaram a se formar. Apesar de ser um fenômeno conhecido, os cientistas não faziam ideia de como isso acontecia.
O estudo decifrou o enigma expondo larvas de robalos a duas diferentes temperatura — normal e alta — durante as primeiras semanas de vida.
Os resultados mostraram que as altas temperaturas inibem a ação da aromatase. Embora algumas fêmeas no grupo exposto às altas temperaturas tenham se desenvolvido normalmente, se desenvolveram como machos ao ter a ação da proteína totalmente inibida. 
Segundo o estudo, é a primeira vez que um mecanismo epigenético (termo usado para se referir a características de organismos que não envolvem mudanças na sua sequência de DNA. Ou seja, é hereditário, porém não genético) ligando um fator ambiental (a alta temperatura) a um mecanismo celular relacionado à determinação sexual (formação dos ovários) foi descrita em um animal. Mecanismos similares só haviam sido observados em plantas. 
Em tempos de aquecimento global, a pesquisa ajuda a explicar o efeito da temperatura na definição sexual de algumas espécies. Isso explica também porque muitos peixes criados em fazendas são machos, já que os criadores usam águas mais quentes para acelerar o desenvolvimento dos animais. 
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisa-relaciona-temperatura-com-mudanca-de-sexo-em-algumas-especies
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