Biologia
Cientistas desvendaram o mecanismo pelo qual altas temperaturas fazem com que alguns peixes com DNA feminino virem machos durante o desenvolvimento
Dicentrarchus labrax: alta temperatura nas primeiras semanas de vida pode alterar sexo do peixe (Thinkstock)
Em algumas espécies, a temperatura desempenha um papel fundamental na determinação do sexo de seus indivíduos. Em outras espécies, a determinação sexual está inscrita no DNA, mas a temperatura pode suplantar a instrução genética. Embora isso já fosse conhecido, pela primeira vez cientistas desvendaram o mecanismo que gera essa mudança. CONHEÇA A PESQUISASegundo um estudo conduzido pelo pesquisador espanhol Francesc Piferrer, do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona, e publicado no periódico científico PLos Genetics, as altas temperaturas inibem uma proteína chamada aromatase.
Título original: DNA Methylation of the Gonadal Aromatase (cyp19a) Promoter Is Involved in Temperature-Dependent Sex Ratio Shifts in the European Sea Bass
Onde foi divulgada: periódico PLos Genetics
Quem fez: Francesc Piferrer e equipe
Instituição: Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona
Dados de amostragem: robalos expostos a diferentes temperaturas — normal e alta — nos primeiros 60 dias de vida
Resultado: Altas temperaturas inibem uma proteína essencial no desenvolvimento de ovários em algumas espécies de peixes.
A aromatase é conhecida, entre outras funções, por transformar hormônios masculinos em femininos. Ela é essencial em espécies de animais vertebrados não- mamíferos, pois é responsável pelo desenvolvimento dos ovários. Sem aromatose, fica impossível formar os ovários.
Estudos anteriores com o Dicentrarchus labrax, espécie de robalo comum no Oceano Atlântico, já haviam demonstrado que, a partir de uma população dividida meio a meio entre fêmeas e machos, é possível chegar a uma população inteiramente masculina aumentando a temperatura da água nos estágios precoces de desenvolvimento.
Os efeitos são maiores no período em que os aparelhos sexuais dos animais ainda não se diferenciaram e ainda não começaram a se formar. Apesar de ser um fenômeno conhecido, os cientistas não faziam ideia de como isso acontecia.
O estudo decifrou o enigma expondo larvas de robalos a duas diferentes temperatura — normal e alta — durante as primeiras semanas de vida.
Os resultados mostraram que as altas temperaturas inibem a ação da aromatase. Embora algumas fêmeas no grupo exposto às altas temperaturas tenham se desenvolvido normalmente, se desenvolveram como machos ao ter a ação da proteína totalmente inibida.
Segundo o estudo, é a primeira vez que um mecanismo epigenético (termo usado para se referir a características de organismos que não envolvem mudanças na sua sequência de DNA. Ou seja, é hereditário, porém não genético) ligando um fator ambiental (a alta temperatura) a um mecanismo celular relacionado à determinação sexual (formação dos ovários) foi descrita em um animal. Mecanismos similares só haviam sido observados em plantas.
Em tempos de aquecimento global, a pesquisa ajuda a explicar o efeito da temperatura na definição sexual de algumas espécies. Isso explica também porque muitos peixes criados em fazendas são machos, já que os criadores usam águas mais quentes para acelerar o desenvolvimento dos animais.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisa-relaciona-temperatura-com-mudanca-de-sexo-em-algumas-especies
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